“Fuja de estudar com aquele que produz uma obra destinada a morrer com ele.”
“Triste discípulo é aquele que não ultrapassa seu mestre.”
Leonardo da Vinci
A questão dos espaços remotos e imediatos.
Hélio Oiticica declarou em seu diário, Aspiro ao Grande Labirinto que tem um problema na arte contemporânea, a cor. A seguir diz que a era do quadro de cavalete está definitivamente encerrada.
Quando escreveu essas anotações falava- se da morte da pintura e alguns críticos citaram, erroneamente, o que o Hélio dissera. Reduziram a frase que ficou: A era da pintura está definitivamente encerrada.
Penso que com as crises resultantes da industrialização com a consequente luta de classes, as guerras, a comuna de Paris, as greves, etc. os artistas perceberam que um espaço plástico concebido por Alberti em seu livro Da pintura (ver figura, uma assemblage por mim realizada), um espaço remoto monocular perdeu o sentido, que era necessário mostrar em seus quadros o espaço imediato. (ver quadro de Daumier).
Nesse quadro de Daumier é forte o narrativo, mas ele fica subordinado ao plástico.
Curioso observarmos a escultura de Degas, A bailarina. O saiote e o laço de fita não são esculpidos, mas objetos retirados do espaço imediato. (ver figura).
Essa estátua está no Museu d’Orsay em Paris. Está postada em um pedestal. Teríamos dela outra percepção se estivesse no chão, no espaço imediato.
Em fins do século XIX Cézanne declarou que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Faz, assim, coincidir o espaço plástico com esse no qual no qual no qual nos qual nos orientamos.
Por motivos de sincronicidade, inconsciente coletivo teorizado por Yung, ou por espírito de época, há cem anos, Duchamp expôs sua obra A Fonte. (ver fig.).
A Pintura abstrata e figurativa
Frase de Duchamp: Antes, a pintura era sempre um meio para um fim, fosse religioso, político, social, decorativo ou romântico. Hoje é um fim em si. Isto é um problema bem mais importante que o ser arte abstrata ou figurativa.
Hoje acredito que devemos pensar nas cores ou abstratas substantivas que são ideias platônicas e que subsistem por si só, ou concretas adjetivas como um par, que contém em si sua oposta e cuja condição é ser no colorido, ou no espaço imediato.
O pintor lida com as duas.
O fato plástico criativo, ou outras possibilidades para a pintura contemporânea.
O Creio que hoje a pintura pode relegar os espaços remotos e imediatos como objetos principais do fazer arte, assim como como classificá-la como figurativa ou abstrata. Creio que hoje deve importar mais a busca por uma lógica do espaço plástico.
Em 1967 meu projeto plástico se definiu com o quadro Formulário, e nele uma lógica prevalece. (ver fig.) Anos mais tarde me inteirei da lógica do terceiro incluído.
Na década de 70 descartei o círculo cromático iluminista, defini as cores abstratas substantivas e concretas adjetivas, estas com uma dimensão temporal, redefini o rompimento do tom, não mais como misturas pigmentares. (Ver fig.). Em 1986 descobri o cinza sempiterno como um pré ou pós fenômeno, um ponto potencialmente ativo e causa e efeito dos coloridos.
Na década de 90 reinterpretei o serpenteamento vinciano. Compreendi sua lógica e como ele anima o espaço plástico.
Essas descobertas me levaram e ter outra visão dos primeiros quadros cubistas de Braque. Nesses quadros as cores são concretas adjetivas, portanto se rompem e têm uma dimensão temporal nos quais o cinza sempiterno, que não existe, como observou Rilke, se manifesta. São fatos plásticos que ocorrem no espaço imediato. Os historiadores de arte deviam rever suas análises, (Ver fig.).
Seguem algumas imagens – fatos plásticos – que estão me levando a pensar em uma lógica e em uma geometria das cores.